Por mais de 50 anos, Paulo Neron Rodrigues, o Paulinho Bilheteiro, circulou pelas ruas do centro de Santa Maria vendendo os bilhetes de loteria que carregava dentro de uma mala preta. Ele morreu em março de 2013, aos 74 anos, mas não deixou de ser parte da memória dos santa-marienses que costumavam cruzar por ele nas ruas.
– Eu fui engraxate dele desde 1971. Era uma rica pessoa. Estava acostumado a ver ele com aquela pasta para cima e para baixo – Claudemir Pippi, 59 anos, que desde 1968 trabalha como engraxate no centro.
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A figura, que é uma das mais simpáticas e emblemáticas da história da cidade, agora ganhou uma escultura na Praça Saldanha Marinho, local por onde ele passou inúmeras vezes. A instalação foi feita na última sexta-feira, quando aconteceu a abertura da 49ª Feira do Livro. O responsável pela escultura é o artista e escritor Carlinhos José Bortoluzzi.
– É uma homenagem a Santa Maria. Meu intuito é preservar a memória da cidade. Paulinho faz parte de uma memória lúdica de outros tempos. Era outra cidade naquela época. Lembro-me dele aqui no centro. Nos fins de semana, vínhamos para a matinê, ele estava sempre aqui. Durante a semana, eu estudava no Maneco, vinha antes para passar na praça, e ele estava por aqui também – relembra.
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Carlinhos costuma trabalhar com esculturas de madeira, mas se desafiou a esculpir a imagem de Paulinho em concreto armado. Foi mais de um ano de trabalho. A roupa é uma reprodução da que o bilheteiro costumava usar: calça preta, camisa verde e sapato preto. A mala de couro preta também está representada. O que mais chama atenção são os olhos expressivos da escultura, assim como eram os de Paulinho.
– O olho é de vidro. Foi bastante trabalhoso fazer até chegar nesse resultado – explica.
A escultura está sentada em um banco. Quem passa pela praça, não deixa de sentar ao lado do bilheteiro para uma foto. O aposentado João Luiz da Silva Bueno, 59 anos, também conheceu Paulinho na rua e, nesta segunda-feira, esteve no local para fazer uma foto ao lado do amigo:
– Eu era amigo dele. A passada dele era aqui no Calçadão e na Avenida Rio Branco, perto do Paradão. Essa homenagem é também para todos que gostavam dele de alguma forma.
HISTÓRICOAlém de ser conhecido por sua atividade de vendedor de bilhetes e pelo carisma singular, Paulinho marcou a história da dramaturgia local, quando atuou em peças teatrais na Escola de Teatro Leopoldo Fróes, dirigida por Edmundo Cardoso, entre 1959 a 1983. Nesse período, Paulinho ganhou destaque nas peças infantis e conquistou os pequenos daquela época. Ainda quando jovem, Paulinho começou a trabalhar como vendedor de sucos de frutas em jogos do Inter-SM e do Riograndense. O trabalho lhe despertou uma nova paixão: o Inter. Não era raro vê-lo no Estádio Presidente Vargas.
Em março de 2013, a morte de Paulinho repercutiu nas redes sociais. À época, um dos posts sugeria a construção de uma estátua no Calçadão para eternizar a presença dele no centro da cidade, feito realizado agora, oito anos depois.